Número total de visualizações de páginas

18/01/2010

A Inquisição



Os cárceres estão cheios. As denúncias não param. Irmãos denunciam os irmãos, mulheres denun­ciam os maridos, os filhos denunciam os pais. Uma sombra devota de terror trespassa a alma do País.Eis um pequeno sumário.

20 de Setembro de 1533 - António Correia denunciou Duarte Fernandes por não comer toucinho.
12 de Janeiro de 1554 - Diogo Antunes, estudante dos Jesuítas, disse que foi a casa de um calceteiro e que este tinha na parede uma estampa com um santinho com teias de aranha.
18 de Junho de 1554 - Compareceu o ouri­ves Pedro Rodrigues por ter dito que certas mulheres iam à romaria da Senhora da Luz menos por devoção do que por poucas vergo­nhas.
31 de Janeiro de 1555 - Compareceu Baltasar Gomes, ourives, que denunciou um flamengo que não tirou o barrete quando passava diante da cruz.
9 de Março de 1555 - O padre Luís Neto, capelão da Sé, acusou um inglês chamado Ricardo, que disse que o Papa canonizava os santos por dinheiro.
9 de Setembro de 1555 - João de Paris, relojoeiro francês, denunciou o inglês Marcos, mestre da Nau, que disse que não era preciso rezar aos santos, bastava fazê-lo a Deus.
21 de Janeiro de 1556 - André Pires, padre de Sarzedas, denunciou António Rodrigues por ter dito que Nossa Senhora era judia.
16 de Fevereiro de1556 - O jesuíta João Dício acusou o flamengo Reiner, lapidador de pedras, por ter dito que era mais virtuosa a vida dos casados que a dos religiosos.
26 de Março de 1556 - Ascenso Fernandes denunciou Pedro de Loreto, carpinteiro fran­cês, por comer carne à sexta-feira.
22 de Abril de 1556 - Francisco Gonçalves denunciou Rodrigues Álvares, escrivão, por vestir aos sábados pelote, calça preta, boas botas e roupão esverdeado, com pesponto de seda e alamares, ao passo que nos dias san­tos traz só gabão de mangas curtas.
10 de Julho de 1556 - Fernando Afonso denunciou dois hereges de Ponte de Lima, que disseram que a hóstia era apenas pão.
30 de Abril de 1557 - Manuel Borges denunciou António Gonçalves por ter dito que dormir com uma mulher não era mal nenhum.


José Hermano Saraiva e Maria Luísa Guerra
Diário da História de Portugal

Sem comentários: